English French German Italian Spain

 

                             

 

 

A FERIDA MORTAL

 

 

 

Talvez um dos assuntos mais polêmicos quando estudamos as profecias apocalípticas, é o que se refere à ferida mortal da besta, a qual é surpreendentemente curada, e sua relação com a passagem de Apocalipse 17:8-11, que descreve a besta que era e já não é, mas que virá, vindo do abismo para a perdição.

Os textos principais relacionados a essa importante questão são dois:

"E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.

E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.

E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta" (Apocalipse 13:1-3)

"A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá. Aqui o sentido, que tem sabedoria.

As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada. E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo.

E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apocalipse 17:8-11)

Diante das difíceis passagens apocalípticas, podemos ter três posturas. A primeira é dizer "...São passagens muito difíceis, não creio que seja bom pensar nelas ou tentar entendê-las...Basta viver uma vida de santidade e ficará tudo bem...Não vamos preocupar-nos com isso...".

Uma segunda postura é assumir o papel de donos da verdade e afirmar categoricamente ter o conhecimento, desprezando qualquer posição diferente.

Não queremos assumir nenhuma dessas duas primeiras posições, pois nos parecem extremamente perigosas.

A primeira coloca-se contra a própria Palavra revelada no Apocalipse e menospreza o cuidado divino com Seus servos quando diz:

"E disse-me: Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer. Eis que presto venho: Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (Apocalipse 22:6)

Ou quando o Mestre ensina aos discípulos como identificar o tempo próximo a Sua volta, após detalhar minuciosamente os principais acontecimentos que a antecederiam:

"Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas" (Mateus 24:32-33)

A segunda postura, cheia de altivez e auto-suficiência, coloca-se contra o ensinamento do Espírito através de Pedro:

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação" (II Pedro 1:20)

Cremos que a posição mais salutar é obedecer ao mandamento do Senhor Jesus: saber o que o Ele mostra a Seus servos e guardar as palavras da profecia do livro em questão.

Seguir e estudar os sinais profetizados pelo Senhor ou revelados por Ele é valorizar o cuidado do Criador pelos Seus servos e assumir uma atitude de agradecimento a Ele por ter-nos revelado tais acontecimentos futuros.

É nesse contexto que elaboramos este estudo para que você, leitor do Projeto Ômega possa considerar. Que o Altíssimo nos conduza a toda verdade.


O QUE É BESTA


O termo "besta", do grego therion, é utilizado diversas vezes no livro de Apocalipse, referindo-se a diferentes contextos.

Quando lemos a palavra "besta" ela pode estar referindo-se ao sistema de governo que dá sustentação ao anticristo (Apocalipse 13:1-2), pode estar referindo-se à própria pessoa do anticristo ou até mesmo ao falso profeta (Apocalipse 20:10, Apocalipse 20:4, Apocalipse 19:20, Apocalipse 13:11-12, Apocalipse 17:17, Apocalipse 14:9, etc).

Compreender qual é a real aplicação do termo "besta" é fundamental para ter um entendimento mais edificante da revelação apocalíptica.

Por exemplo, quando João declara que viu uma besta com sete cabeças e dez chifres, obviamente não está referindo-se à besta como pessoa (anticristo) e sim ao império ou sistema que lhe dará sustentação.

Isso fica patente quando o mesmo texto fala que à besta (sistema) foi-lhe dada "uma boca" (uma alusão ao anticristo como porta-voz maligno) que fala grandes coisas e blasfêmias. Porém, há casos em que o termo "besta" só faz sentido quando aplicado a uma pessoa.

Um ponto central para a compreensão dessa questão está em Apocalipse 13:14. Neste texto está escrito que o falso profeta faz com que as pessoas adorem à besta, "dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia".

Sem dúvidas, não faria sentido as pessoas adorarem um sistema de governo nem fazer uma imagem desse sistema...

Tudo isso aponta para uma pessoa (anticristo), como o alvo da ferida mortal e sua surpreendente cura. Aqueles que defendem a idéia de que a ferida se deu ou se dará sobre o império que dará sustentação à besta ficam com sua posição fragilizada diante desse forte argumento.

Mais adiante apresentaremos outros argumentos que apontam para uma pessoa como o alvo da concretização da profecia que aborda a cura da ferida mortal.

Conseqüentemente, ao cruzar as revelações de Apocalipse 13:1-3 e Apocalipse 13:14, percebemos que há fortes indícios para a acreditar que a besta que recebe a ferida mortal é uma pessoa (anticristo), uma das sete cabeças da besta (sistema).

Ele receberá uma ferida mortal ou "ferida da espada" e tal ferida será surpreendentemente curada, gerando admiração e adoração à sua pessoa.

É fundamental ter esses princípios em mente para que possamos chegar a conclusões mais apropriadas... 


SEQÜÊNCIA DE BESTAS DE DANIEL


Cremos que, para entender com mais propriedade qual seria a real aplicação de Apocalipse 13:1-3 e 17:8-11, que fala sobre a cura da ferida mortal de uma das cabeças da besta ou o ressurgimento da besta após ser mortalmente ferida, é necessário mostrar como o profeta Daniel retrata em seu livro as figuras que também foram reveladas a João em Patmos.

Há uma estreita sincronia entre Daniel e Apocalipse. O profeta do Velho Testamento, em determinado momento, recebe uma visão de quatro bestas (animais) e logo após lhe é revelado o significado de cada uma delas:

1. Leão com asas de águia [Império Babilônico]

2. Urso com três costelas na boca [Império Medo-Persa]

3. Leopardo com quatro asas e quatro cabeças [Império Grego]

4. Animal terrível e espantoso com dentes de ferro, diferente dos outros e com 10 chifres [Império Romano]


SEQÜÊNCIA DE BESTAS DO APOCALIPSE


Agora note a relação entre o que foi revelado a Daniel e o que é mostrado pelo Apocalipse:

"E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.

E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.

E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta" (Apocalipse 13:1-3)

Vemos então que o animal que sobe do mar, possuindo dez chifres e sete cabeças, é semelhante ao leopardo, indicando muito provavelmente rapidez em sua implantação, tal qual o Império Grego, com pés de urso, parecendo mostrar a grande extensão territorial do Império da Besta, a exemplo do que ocorreu com o Império Medo-Persa e boca de leão.

João dá à besta descrita em Apocalipse 13:1-2, características dos impérios anteriores. Até mesmo uma comparação indireta nos leva a essa conclusão.

Quando comparamos as palavras altivas do representante do Império Babilônico, identificado como "leão" na profecia de Daniel, às palavras altivas da besta, podemos fazer perfeitamente um paralelo entre ambas, ficando claro porque a besta terá "boca de leão" (Apocalipse 13:5-6, Daniel 4:30).

Fica patente, então, uma direta relação entre as profecias reveladas a Daniel na Babilônia e aquelas reveladas a João em Patmos.

Conseqüentemente, a besta retratada em Apocalipse 13:1-3, levando em consideração o sincronismo entre Daniel e Apocalipse, se refere ao Império Romano, ou "o quarto animal-reino" descrito por Daniel.

Porém, como já vimos, o termo "besta" não é aplicado apenas para impérios ou governos e sim para pessoas, a exemplo do anticristo e do falso profeta.

Quando falamos de Império Romano, a imagem que nos vem à mente é a do grande império existente na época do ministério terrestre do Senhor Jesus.

Porém, a seguir, explicaremos porque cremos que a besta descrita em Apocalipse 13:1-3 não se refere apenas ao Império Romano histórico, mas é uma descrição do poder político mundial, personificado no poderio do Império Romano, que terá sua plena concretização num futuro muito próximo, englobando as principais características dos impérios passados e servindo como um clímax do poder político mundial que durante séculos tem sido influenciado pelo inimigo.

Em resumo, o Império Romano foi o último grande império anterior ao sistema maligno mundial que será implantado imediatamente antes do regresso do Ungido.


A CONTINUIDADE


Ao ler Apocalipse 13:-13, vemos que o autor, divinamente inspirado, se esmera em mostrar a besta (sistema), com características de impérios que já tinham existido na época.

Tanto o leopardo (Grécia), o urso (Medo-Pérsia) e o leão (Babilônia), são retratados como elementos que compõem o corpo da besta ou mostram alguma característica intrínseca à besta.

Quando falamos em "corpo", é interessante voltar ao livro de Daniel e meditar sobre a estátua vista por Nabucodonozor em seus sonhos e interpretada pelo profeta...

A estátua sonhada pelo rei babilônico representava um gigantesco corpo, com a cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de cobre, pernas de ferro e pés de ferro e barro. Mais uma vez, o Eterno revela a Daniel o real significado daquele sonho.

O corpo representava o império babilônico, o medo-persa, o grego e o romano. Não devemos esquecer que um corpo, apesar de possuir membros muito diferentes, é um organismo que possui unicidade de propósitos, cujas ações partem de comandos originados na cabeça. Logo após essa descrição inicial, o profeta oferece um detalhe importantíssimo:

"E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro, esmiúça e quebra tudo; como o ferro que quebra todas as coisas, assim ele esmiuçará e fará em pedaços.

E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois viste o ferro misturado com barro de lodo. 

E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.

Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.

Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação"

Note que, ao mesmo tempo em que descreve o quarto reino (Império Romano), como aquele que é forte como o ferro e esmiuça e faz em pedaços, o profeta descreve que os dedos dos pés eram "em parte ferro e em parte barro".

Também, expressa que "nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro"...

Então, percebemos aqui algo interessante. No mesmo texto em que descreve o Império Romano como as fortes pernas de ferro, o profeta coloca como uma extensão lógica os pés e os dedos dos pés, estes últimos de barro e ferro, dando uma idéia de fragilidade.

Historicistas e preteristas afirmam que esses dedos representam dez povos bárbaros que ocasionaram a queda do Império Romano.

Porém, essa posição se coloca contra o desfecho final que Daniel mostra no texto e, como veremos mais adiante, contra as revelações de Apocalipse.

Se a pedra cortada do monte (uma clara alusão ao Senhor Jesus Cristo, a pedra de esquina), cai nos pés da estátua (Daniel 2:34), esmiuçando a partir dos pés todo o resto e levantando o reino do Criador em seu lugar, então é algo que ainda ocorrerá, já que o mundo atualmente, mais de 1.500 anos depois dos povos bárbaros que ocasionaram a queda do Império Romano (pelo menos em sua parte ocidental), continua jazendo no maligno, satanás é o "príncipe desta era", a apostasia é crescente e a iniqüidade tende a multiplicar-se.

O texto de Daniel é claro: a pedra esmiuçará, a partir dos pés, todos os reinos e, a partir desse momento, o reino do Pai será definitivamente implantado na Terra.

Não é descrita no texto em questão apenas a queda do Império Romano, como sustentam alguns preteristas e historicistas, mas a destruição final de todo o sistema de governo humano influenciado pelo inimigo. O futurismo nos oferece uma interpretação muito mais coerente com aquilo que observamos na história, comparando-a com a revelação bíblica.

 

DEZ DEDOS X DEZ CHIFRES

 

Quando conciliamos as revelações de Daniel com as do Apocalipse sob um prisma futurista, as coisas começam a fazer sentido. Se considerarmos a besta, enquanto sistema, como o reino do anticristo durante a grande tribulação, então começamos a entender porque a destruição de todo o corpo (estátua) se dará em um só momento e a partir dos dedos dos pés.

Também compreendemos porquê os dedos dos pés são uma seqüência linear do corpo, numa sucessão cronológica.

João, ao escrever o Apocalipse, recebeu a revelação específica de que, num determinado momento do futuro, dez reis entregariam seu poder à besta. Não será uma entrega forçada, mas uma cessão de poder e soberania totalmente consciente e planejada (Apocalipse 17:12-17).

O escritor vai mais além e afirma que os dez chifres e a besta reinarão num mesmo período, descrito na revelação apocalíptica como "uma hora".

Mais uma vez, existe uma clara sincronia entre a revelação do Apocalipse e Daniel, facilmente entendida sob um prisma futurista, quando coloca o reinado conjunto dos dez chifres e da própria besta (anticristo), até que se cumpram as palavras do Pai, ou seja, a concretização do reino do Altíssimo entre os homens de uma forma literal e visível (Apocalipse 17:17).

Nos parece sensato relacionar os dez dedos aos dez chifres, sendo coerentes com o sincronismo entre Daniel e Apocalipse.

Da mesma forma que Daniel descreve os dedos dos pés como uma mistura com semente humana, tendo elementos fortes (ferro) e elementos frágeis (lodo), a configuração do domínio mundial da besta encontra uma forte sustentação numa união global dos dez chifres em torno de sua autoridade maligna.

Atualmente, para que qualquer líder ganhe o total apoio mundial, as pessoas de todas as camadas, países e classes sociais necessitariam estar representadas.

Países considerados fortes ou grandes potências (ferro), deveriam compartilhar seus projetos e apoio à besta com países mais frágeis (lodo), perfazendo assim os dez dedos ou dez chifres.

Em nosso site, comentamos em vários tópicos sobre a possível constituição dos dez chifres. Hoje, a opção que se mostra mais próxima e possível é a reconfiguração do Conselho de Segurança da ONU.

Aos atuais 5 membros permanentes, reconhecidos como potências (EEUU, Rússia, China, Inglaterra e França), o que poderíamos relacionar aos dedos de ferro, poderiam unir-se países como África do Sul, Brasil, Índia, etc, e já existe essa real possibilidade de aumentar o Conselho de Segurança de 5 para 10 ou 11 membros.

Nesse caso, o ferro estaria misturado ao lodo e estaria formado um grupo de 10 nações que, em determinado momento, poderiam, sob um grande pretexto mundial, oferecer sua soberania à besta.

Apesar de que a reformulação do CS da ONU se apresenta como a opção mais próxima e possível, outras, como o aumento do G8 para um G10 ou G11, ou até mesmo uma gigantesca divisão do mundo pela ONU em dez grandes blocos de nações, não devem ser descartadas.

Estabelecendo a sincronia entre os textos de Daniel e Apocalipse, fica claro que os dez chifres, representados em Daniel como dez dedos, são uma continuação lógica do poderio dos quatro grandes impérios retratados.

Os pés mostram, biblicamente, uma idéia de posse. É como se, no período tribulacional, a posse de todos os governos mundiais, por alguns momentos, ficasse finalmente com o inimigo, depois de sucessivas e frustradas tentativas feitas durante toda a história através dos diversos impérios humanos.

O surgimento dos dez chifres não requer o ressurgimento de um antigo império, mas uma combinação de todos eles, como mostram as comparações utilizadas em Apocalipse 13:1-3.

Da mesma forma, a pessoa do anticristo, denominado também de "besta", como já vimos anteriormente, se encaixa perfeitamente na personificação da estátua vista por Nabucodonozor, expressando numa só pessoa todos os domínios políticos em determinado momento. 


A FERIDA


Chegamos então ao ponto central de nosso estudo. Sem dúvidas, há posições divergentes na compreensão das passagens que se referem à cura da ferida mortal e ao surgimento abismo da besta "que foi, não é e há de subir do abismo".

Muitos sustentam que quem receberá a cura da ferida mortal será o próprio Império Romano. Porém, a Palavra indica que uma das cabeças da besta (império) é que será objeto da ferida e posterior cura:

"E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta" (Apocalipse 13:3)

A partir desse momento, o termo "besta", além de aplicar-se a um sistema ou império, passa a ser aplicado também à pessoa do anticristo, alguém que receberá adoração (como já vimos, não faz sentido um império receber adoração...).

Tal conceito fica claríssimo em Apocalipse 13:11-12, onde fica revelado, tal como em Apocalipse 17:8-11, que a primeira besta (aquela de Apocalipse 13:3-8), é a que recebeu a cura da ferida mortal e será adorada através da influência do falso profeta:

"E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão.

E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada.

E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens.

E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia" (Apocalipse 13:11-12)

Então, uma das cabeças da besta (império ou sistema) é como que "ferida de morte", porém tal ferida é sarada.

A Terra se maravilhará diante disso, indicando que será um acontecimento conhecido por todos e que gerará a adoração à pessoa da besta (como já vimos, o anticristo), o que nos leva à conclusão de que essa cabeça (pertencente às sete que compõem a besta como império) é um homem, que será alvo de adoração mundial (Apocalipse 13:3, Apocalipse 13:8, Apocalipse 13:14, Apocalipse 17:8, II Tessalonicenses 2:4).

Numa outra simbologia apocalíptica, as sete cabeças do animal são relacionadas a sete montes, sobre os quais a mulher (Grande Babilônia) está assentada.

Ao mesmo tempo, as sete cabeças são relacionadas a sete reis e a besta é identificada como uma oitava cabeça, mas pertencente ao grupo das sete (a besta que era e já não é, mas que virá)...

Os dez chifres são dez reis, os quais receberão o reino em determinado momento e por um espaço de tempo específico e entregarão à besta o seu poder. 

Já que fica patente que o sujeito adorado de Apocalipse 13:3 é o mesmo de Apocalipse 17:8-11, fica sem muita base qualquer interpretação que associe as sete cabeças a sete impérios, com o ressurgimento de um deles.

Como já vimos, o sistema que oferecerá o domínio ao anticristo será um clímax da influencia maligna sobre os governos políticos humanos, englobando todos os impérios anteriores, como um verdadeiro "corpo".

O último grande império foi o romano e os dez chifres serão uma continuação lógica dele, assim como os pés e os dedos dos pés são uma continuação lógica das pernas.

Se relacionarmos o fato da ferida mortal (Apocalipse 13:3) ao fato da besta ser alguém que "era" e "já não é" (ferida mortal), "mas que virá" (cura da ferida mortal), e que essa cura gerará uma adoração mundial à besta, chegamos a conclusões interessantes.

Sem dúvidas, João descreve algo que será realmente surpreendente. Algo que gerará na população mundial um sentimento e uma atitude nunca antes vista.

Se levarmos em consideração que, à medida que passam os anos, cresce a ciência e aumenta o senso crítico da população mundial, perceberemos que os homens vão se tornando cada vez menos suscetíveis a qualquer engano.

Ou seja, devido ao crescente grau de informação do ser humano, ele fica menos ingênuo e menos suscetível a enganos superficiais. Para enganar aos homens dos últimos tempos, os sinais serão realmente surpreendentes...

Em resumo, aquilo que João descreve como a cura da ferida mortal será um evento sem precedentes, o qual gerará uma comoção mundial, até mesmo nos mais céticos.

A Palavra é clara ao revelar que todos (exceto os servos do Senhor) adorarão à besta. Algo realmente surpreendente deverá ocorrer para ocasionar essa onda mundial de adoração a um homem...

A grande questão, quando estudamos sobre as sete cabeças e o que seria essa ferida mortal, é situar historicamente as palavras de João quando escreveu a passagem compreendida entre os versículos 8 e 11 de Apocalipse 17. Vejamos o texto em questão:

"A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá.

Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada. E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo.

E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apocalipse 17:8-11)

A que período da história estaria referindo-se João ao dar 3 parâmetros de tempo ("era" ou "foi", "já não é" e "há de subir do abismo" ou "vai à perdição")? Cremos que essa é a grande chave para entender a questão principal que estamos estudando.

Nessa passagem fica claro então que o escritor do Apocalipse se refere a tres tempos quando se refere à condição da besta (passado, presente e futuro) e há diferentes formas de interpretar tal questão:


INTERPRETAÇÃO HISTORICISTA


Muitos têm tentado interpretar essa passagem colocando o "já não é" nos tempos atuais, posteriores à época em que o Apocalipse foi escrito. Essa é uma característica da corrente historicista, que tende a relacionar fatos históricos às profecias apocalípticas.

De acordo com o historicismo, as profecias apocalípticas têm se cumprido ao longo da história, deixando apenas poucos acontecimentos para serem cumpridos no futuro.

Um exemplo disso seria atrelar a ferida mortal descrita por João no livro apocalíptico à revolução francesa, que ocasionou, entre outras consequencias, o declínio do poderio político do papado em 1798, pressupondo, entre outras coisas, que os dias apocalípticos são anos. 

Essa posição, além de tentar encaixar fatos e datas para que seus cálculos façam sentido, esquece duas premissas fundamentais no estudo da Palavra, as quais serão vistas mais adiante: a contextualização e o entendimento que os irmãos primitivos tiveram das profecias em questão.

Um simples exemplo da questão do encaixe das datas é estabelecer, como já vimos, o período dos 1260 dias ou 42 meses profetizados no Apocalipse, como 1260 anos, ou seja, o tempo em que a igreja romana exerceu domínio irrestrito e perseguiu aos que se opunham a ela.

O cálculo, partindo do ano 538, que marca a publicação do Edito de Justiniano e a supremacia do bispo romano sobre os outros, com o início da perseguição da igreja romana àqueles que se negavam a estarem sujeitos a ela, se extende até 1798, que marca a prisão e exílio do papa Pio VI e sua perda de poder político diante da revolução francesa, interpretada por muitos historicistas como a "ferida mortal".

Realmente, os cálculos historicistas dão 1260 anos! Porém, quando vamos à profecia, vemos que a besta que se recupera da ferida mortal é a mesma que, ato contínuo, atuará por 42 meses, perseguindo àqueles ques e opuserem a ela.

Ou seja, torna-se incongruente afirmar que a perseguição dos 1260 dias ou 42 meses se deu antes da ferida mortal ser curada.

Quem ler Apocalipse 13:1-8, perceberá que o período de atuação da besta se dará após a cura da ferida mortal e esse período é de 42 meses ou 1260 dias.

Da mesma forma, torna-se incongruente defender que a Igreja do Senhor foi perseguida e protegida sobrenaturalmente apenas entre 598 e 1798 de nossa era...

A perseguição sobre a Igreja é uma constante desde sua instituição e já em 64 d.C assumiu características institucionais, sob o reinado de Nero. Essa perseguição se extenderá até o tempo do fim.

Portanto, as premissas do historicismo nos parecem forçadas, ao tentar encaixar feitos históricos às profecias.

Seguindo o historicismo, muitos chegaram a datar a vinda do Salvador, principalmente no século XIX, usando cálculos baseados nessa interpretação e colhendo o desconcertante fruto da decepção.

Na questão que estamos estudando, que é a ferida mortal que acomete uma das cabeças da besta e o fato de ela subir do abismo, cremos que as premissas historicistas não oferecem um sólido fundamento para entender tais passagens proféticas.


A INTERPRETAÇÃO PRETERISTA


Não obstante defendermos que os irmãos aos quais foram destinadas primeiramente as cartas apocalípticas deveriam entender a mensagem dessas cartas, ou procurar entender, como é requerido no mesmo livro (Apocalipse 13:18, Apocalipse 22:10), e que muitas informações devem ser entendidas sob o prisma desses irmãos primitivos, cremos que é um erro limitar a concretização principal das profecias apocalípticas apenas aos primeiros séculos de nossa era, tal qual fazem os preteristas.

Quando falamos de "preteristas", devemos ter em mente que entre aqueles que defedem tal posição há importantes diferenças.

Podemos encontrar "preteristas parciais", "preteristas totais" e até mesmo aqueles que afirmam que a volta do Messias já se deu definitivamente em 70 d.C!

Afirmar que o anticristo era o imperador romano ou que o falso profeta simbolizava as práticas religiosas espúrias do Império é fechar os olhos para detalhes importantes.

A principal corrente preterista afirma que a besta descrita no Apocalipse refere-se a Nero, cujo reinado extendeu-se de 54 a 68 d.C.

Outros afirmam que foi Domiciano, um dos mais cruéis perseguidores da Igreja. Para tal, os preteristas apelam para métodos parecidos aos dos historicistas, ao tentar encaixar conceitos dentro de sua linha de raciocínio. Um desses "encaixes" é o que se refere ao cálculo do número do nome da besta (666) e sua atribuição a Nero.

Usando o valor numérico das letras hebraicas, o termo NVRNRSQ daria 666 (50+6+200+50+200+60+100).

Porém, o que tem a ver o hebraico com os destinatários das cartas apocalípticas? Não foram elas dirigidas a igrejas situadas na Ásia Menor, onde o grego era a língua oficial?

Na época em que foi escrito o Apocalipse, nem mesmo os judeus falavam corriqueiramente o hebraico! Consequentemente, o preterismo neste caso cai numa gritante contradição.

Se, num primeiro momento, afirma que deve ser considerada a realidade histórica e geográfica da época em que foi escrito o Apocalipse, fazendo com que a comprenssão das profecias se desse essencialmente entre os cristãos primitivos, como afirmar que um detalhe tão afastado da realidade daqueles irmãos foi colocado no livro?

O valor numérico do nome Nero (Neron) em grego é de 1005, como fica claro na obra do historiador romano Suetônio (Suetonius, Nero 39). Por outro lado, centenas de nomes, a exemplo do que ocorre em outros idiomas, quando são transferidos para o idioma hebraico dão 666.

Uma outra questão envolvendo as tentativas preteristas de atrelar Nero à besta descrita em Apocalipse 13:17-18 é da variante textual 616.

Essa variante textual surgiu no século II em alguns manuscritos do Apocalipse, trazendo no texto de Apocalipse 13:18 o número 616 em vez de 666.

Para alguns preteristas, essa diferença foi incluida propositalmente por alguns copistas, devido à grande diferença grafológica que há entre as letras usadas para o valor 60 e para o valor 10.

Ainda que esses valores fossem descritos com palavras em vez de letras, a diferença seria grande para pensar que houve um erro apenas de cópia.

A palavra grega para 60 é hexakonta, enquanto que a palavra que identifica o número 10 é deka. Como aponta o erudito Bruce Metzger, em sua obra "A Textual Commentary on the Greek New Testament", essa diferença deve ter sido intencional.

Sem dúvidas, fica a clara impressão de que houve uma intervenção proposital no texto apocalíptico para produzir essa variante, que circulou nos primeiros séculos.

Consequentemente, alguns preteristas sugerem que essa seria uma tentativa de tornar o nome de Nero atrelado ao 666 de Apocalipse 13:18, já que 616, caracteres latinos, daria 666, tornando o nome de Nero decifrável também àqueles que não entendiam o 666 "hebraico".

Mas, e enquanto à advertência contida nas próprias linhas originais do Apocalipse? Vejamos:

"Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro" (Apocalipse 22:18-19)

Ou seja, de acordo com as próprias Escrituras, não devemos dar ouvidos à variante textual, já que é uma alteração do que está escrito no texto original de Apocalipse 13:18, aceito pelos primeiros irmãos.

Não sabemos que propósitos houve por trás da divulgação dessa variante, porém cremos que o mandamento da Palavra do Senhor está acima de todo argumento humano. Portanto, a advertência de Apocalipse 22:18-19 desmerece o valor da variante textual.

Se realmente a profecia referente ao número 666 tivesse sido cumprida em Nero, os principais escritores cristãos dos séculos II, III e IV teriam mencionado esse fato fundamental.

É inconcebível afirmar que uma verdade tão importante teria sido esquecida em 50 ou 100 anos!

Porém, pelo contrário, observamos um completo silêncio dos primeiros escritores cristãos a respeito dessa associação entre Nero e Apocalipse 13:18.

O escritor Irineu, Bispo de Lyon, vai mais além ao, na mesma obra, desmerecer a variante textual (616) e alertar os irmãos a esperarem o cumprimento futuro da profecia em questão (Contra as Heresias V, XXX).

O próprio Irineu, com o objetivo de mostrar a subjetividade de ficar atrelando personagens à profecia de Apocalipse 13:18, dá diversos nomes que, se calculados, dariam 666, porém em nenhum momento menciona Nero...

Seu conselho é para, em vez de apenas ficar calculando possíveis nomes, esperemos o total cumprimento profético, o que nos deixa uma importante noção de qual era a mentalidade de nossos irmãos do século II a respeito de Apocalipse 13:18.

Os textos de Hipólito também nos remetem para uma concretização futura das profecias referentes ao fim dos tempos.

Tampouco se encaixa na visão preterista o fato de que o controle financeiro global profetizado em Apocalipse 13:17 é mundial, totalitário e sumário.

Quem não possuir em sua mão ou fronte o sinal da besta, não poderá fazer parte do mundo financeiro e comercial. Quem receber esse sinal será alvo da justiça do Senhor (Apocalipse 14:9-10).

Não há meio termo. Nenhuma dessas claras verdades bíblicas se encaixa na visão preterista. Se bem é certo que em certo período houve adoração à pessoa do imperador e que as moedas cunhadas no Império traziam a imagem do mesmo, tais fatores não preenchem a abrangência e gravidade das profecias apocalípticas.

A não ser que os preteristas estejam afirmando que o uso de uma moeda com a figura de um imperador adorado dentro do império fosse motivo para condenação eterna...

Em Lucas 20:24-25 vemos qual foi a postura do Senhor Jesus diante de uma moeda com a figura do imperador romano, deixando claro que o uso de uma moeda romana, em si, nada tinha de pecaminoso.

O controle financeiro descrito em Apocalipse 13:17-18 se mostra mais viável no atual cenário de globalização comercial e financeira, atrelado a um avanço tecnológico capaz de controlar e monitorar a maior parte da população mundial.

Uma outra afirmação de muitos preteristas – e alguns historicistas também - é de que os dez chifres mencionados nos capítulos 13 e 17 de Apocalipse, se referem às dez principais nações bárbaras que ocasionaram a queda do Império Romano Ocidental.

Se formos à revelação apocalíptica, veremos que a realidade é completamente diferente! Os dez chifres são dez reinos que, num determinado momento, e "por uma hora" receberão poder e entregarão sua soberania à besta (Apocalipse 17:12-18). A Palavra revela que os dez chifres reinarão juntamente com a besta!

Para terminar, vale lembrar o conceito levantado pelo apóstolo Paulo a respeito do Império Romano. Paulo, em determinado momento, apelou para sua cidadania romana (Atos 22:25) e teve plena liberdade para pregar o evangelho em Roma (Atos 28:30-31). Faria ele isso se a besta apocalíptica fosse um imperador romano?

Cremos que não. Não obstante o Império Romano e os outros impérios serem, como já colocamos acima, uma representação do futuro sistema maligno mundial, e muitos imperadores romanos serem uma figura do anticristo, não há elementos na conduta e no ensino de Paulo que nos levem a crer na teoria preterista.

Portanto, a corrente preterista não oferece uma argumentação sólida para explicar quem é a besta que recebe a ferida mortal nem o quê é a ferida mortal e a sua cura. Tudo isso aponta para um cumprimento futuro das questões principais que estamos abordando... 

 

A CONTEXTUALIZAÇÃO

 


João não escreveu as cartas apocalípticas apenas para cristãos no século XIX, XX ou XXI, mas suas cartas foram dirigidas a igrejas existentes já no século I.

A revelação (apokalypsis), não foi fornecida apenas para nós, cristãos modernos que vivemos no período próximo à tribulação e à concretização final das profecias com a volta gloriosa do Senhor Jesus, mas foi entregue a igrejas da Ásia Menor já no primeiro século.

É óbvio que o quadro profético vai ficando mais claro a medida que o tempo vai transcorrendo.

Porém, na questão que abordamos (os tempos usados por João em Apocalipse 17:8-11), a posição mais salutar, em nosso entendimento, é crer que os tempos usados pelo escritor do Apocalipse se referem à sua própria perspectiva histórica dos fatos.

Então, quando João escreve "já não é", seguindo essa linha de raciocínio, se refere a uma condição existente no momento em que o livro foi escrito, o que nos remete ao primeiro século.

Como já vimos, o personagem em questão (besta), é um homem (rei) e será adorado por todos os que não pertencem ao Corpo de Cristo (Apocalipse 13:8).

Se, considerando a contextualização histórica, ele "tinha sido" e "já não era" na época em que João escreveu o Apocalipse, e surgiria depois, vindo do abismo, é nesse fundamento que devemos nos sustentar.

Ou seja, João estava falando de um personagem que tinha sido, já não existia na época da recepção da revelação apocalíptica em Patmos e que voltaria do abismo num futuro para ir à perdição, logo após 42 meses de poderio (Apocalipse 13:5), sendo derrotado pelo próprio Senhor Jesus em Sua vinda gloriosa (Apocalipse 19:20). 

 

O ENTENDIMENTO PRIMITIVO


Uma das características do Projeto Ômega é voltar, na medida em que isso for possível, às convicções e práticas da igreja do primeiro século, inclusive em suas posições escatológicas.

Apesar das diversas diferenças doutrinárias já se manifestarem no século I, cremos que, enquanto mais próximo do ensino dos apóstolos no século I for um posicionamento doutrinário ou uma crença, mas próximo será também dos ensinamentos do Senhor Jesus.

Lamentavelmente, muitos modismos têm surgido no decorrer dos séculos, tentando "adaptar" a mensagem do evangelho a cada época e afastando-nos da concepção primitiva.

Os próprios apóstolos, ao escreverem suas epístolas, nos alertam contra os futuros desvios que haveria dentro de muitos grupos cristãos e descrevem abertamente a futura e crescente apostasia (II Timóteo 4:3-4).

Consequentemente, quando nos deparamos com um assunto complexo, como aquele que estamos abordando, sempre será salutar ver o que entendiam nossos irmãos primitivos sobre o tema.

Quando o imperador Domiciano começou seu governo em 81 d. C. e deflagrou uma perseguição brutal à Igreja, muitos irmãos primitivos associaram sua figura à volta de Nero ao poder.

A lenda do "Nero redivivo" começou pouco depois de sua morte. Nero suicidou-se em 68 d.C. Apartir daquele momento começaram a surgir mitos e teorias de que Nero não tinha morrido, mas que estava escondido em algum lugar e que retornaria ao poder ou que o golpe mortal que provocou o suicídio fora curado sobrenaturalmente.

Quando as igrejas receberam as cartas apocalípticas, foi natural associar a profecia referente à ferida mortal ao ressurgimento de Nero na pessoa de Domiciano, já que as cartas foram recebidas pelas igrejas em pleno império de Domiciano.

Sem dúvidas, a crueldade dos dois se assemelhava muito e sua obsessão em matar e torturar cristãos também. O historiador romano Tácito relata assim a crueldade de Nero em relação aos cristãos:

"Além de matá-los, fê-los servir de diversão para o público. Vestia-os em peles de animais para que os cachorros os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros acendeu-lhes fogo ao cair da noite, para que a iluminassem.

Nero fez que se abrissem seus jardins para esta exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois se misturava com as multidões, disfarçado de condutor de carruagem, ou dava voltas em sua carruagem.

Tudo isto fez com que despertasse a misericórdia do povo, mesmo contra essas pessoas que mereciam castigo exemplar, pois via-se que eles não eram destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade de uma pessoa"

Ao mesmo tempo, o historiador romano Suplício Severo escreve assim sobre a teoria do nero redivivo:

"Crê-se que, embora se tenha traspassado com uma espada, (Nero) foi curado de sua chaga e conservado em vida, conforme o que dele está escrito: A sua chaga mortal foi curada (Ap 13,3); no fim dos tempos há de ser lançado (no mundo) para consumar o mistério da iniqüidade" (Hist. sacr. 2,29).

Essa constatação nos mostra algo interessante. Fica provado, olhando para a história, que nem Nero nem Domiciano, apesar de serem "anticristos", eram o anticristo, já que a Palavra nos revela que o anticristo será derrotado pelo Senhor Jesus em Sua gloriosa volta e será lançado vivo no lago de fogo (ver II Tessalonicenses 2:8 e Apocalipse 19:20).

No entanto, é interessante observar que a mentalidade dos nossos irmãos primitivos incluía a idéia de que alguém já morto ou desaparecido pudesse ressurgir entre os vivos e trazer grande perseguição à Igreja, assumindo o papel do anticristo.

É claro que João sabia desses rumores a respeito de Nero, porém não cremos que ele se refere a Domiciano quando escreve sobre a besta que surge do abismo, como muitos querem presumir.

Cremos que a visão que João teve em Patmos transcende os mitos e lendas de sua época e vinha diretamente do Senhor Jesus, referindo-se a um ser que resurgirá no final dos tempos, pouco antes da volta do Mestre. Porém, a simples constatação de que muitos irmãos primitivos criam no ressurgimento de um imperador romano, já é uma base importante para que cheguemos a conclusões mais apropriadas...

 

O TERMO "ABISMO"


Entender o que significa "abismo", dentro do contexto que estamos estudando, nos trará um esclarecimento fundamental.

O termo "abismo", encontrado em Apocalipse 9:1, 9:2, 9:11, 11:7, 20:1-3, e também em Lucas 8:31 e Romanos 10:7, origina-se da palavra grega abyssos.

É interessante notar que todas as aplicações do termo "abismo" (abussos), se referem ao lugar espiritual onde se encontram os mortos (como em Romanos 10:7, provavelmente antes da descida do Senhor ao abismo) e ao local onde estão trancafiados alguns espíritos malignos, como atestam todos os outros versículos.

A primeira parte do capítulo 9 de Apocalipse nos fornece uma idéia do que é o abismo e do que ocorrerá no período tribulacional nesse lugar sombrio.

A Palavra narra que seres sairão do abismo (abussos) e ferirão os seres humanos que não tiverem o sinal do Senhor (Apocalipse 9:4).

Esses seres serão liderados por uma entidade identificada como "anjo do abismo", cujo nome em hebraico é Abadom e em grego é Apoliom (Apocalipse 9:11).

Seguindo a questão da etimologia da palavra abismo, um ponto central para a compreensão da origem do anticristo está em Apocalipse 11:7.

Nessa passagem, o anticristo é descrito como alguém que sobe do abismo (abussos), o mesmo lugar retratado em Apocalipse 9:1-11:

"E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará" (Apocalipse 11:7)

O termo usado na passagem acima é o mesmo usado em Apocalipse 20:1-3:

"E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo" (Apocalipse 20:1-3)

Ou seja, considerando todas as aplicações do termo e o contexto que em que tais termos aparecem, vemos que o anticristo será alguém que surgirá do abismo espiritual, um local destinado à permanência temporária de determinados seres espirituais.


CONCLUSÃO


Algo que nunca devemos esquecer, quando falamos dos últimos tempos, é que o engano satânico será exercido sobre a humanidade num nível sem precedentes. Será o clímax do engano satânico sobre o mundo.

Devemos estar muito atentos a isso. O apóstolo Paulo explica que haverá uma operação do erro, com o propósito de enganar a muitos. Falando da aparição da mesma besta que surge do abismo à qual João se refere, Paulo escreve:

"A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira" (II Tessalonicenses 2:9-11)

Dentro desse gigantesco contexto de erro e engano maligno, não podemos descartar a aplicação literal de Apocalipse 11:7 e Apocalipse 17:8.

Cremos que, sob uma permissão específica do Senhor, é profeticamente viável a idéia de que alguém já morto ou aparentemente morto surja do abismo, gerando uma comoção sem precedentes e enganando a humanidade de uma forma nunca vista anteriormente e, ao mesmo tempo, provando a fé daqueles que servem ao Senhor.

Como ficaria a fé de muitos se vissem em nossos dias um ente já falecido subir do abismo chamando para si a adoração mundial? Sem dúvidas, esse embuste demoníaco maravilharia a muitos, já que lida com o grande enigma da humanidade que é a morte.

Obviamente que aqueles que defendem uma interpretação simbólica do Apocalipse, rejeitam categoricamente a idéia do ressurgimento de um ser do abismo.

Um dos mestres do alegorismo, Agostinho, já se posicionava contra essa idéia no século IV:

"Julgam que, ao dizer "já agora está ativo o mistério da iniqüidade", o apóstolo tinha em vista Nero, cujos feitos pareciam ser os do anticristo. Donde não poucos suspeitam que Nero há de ressuscitar e ser o anticristo.

Alguns, porém, crêem que Nero não foi morto, mas, sim, arrebatado, de sorte a ser tido por morto; permanece vivo no vigor da idade que tinha quando o deram por extinto e ficará oculto até ser revelado no tempo devido e restabelecido no trono.

A mim tanta presunção por parte dos que conjeturam, causa grande surpresa" (De civitate Dei 20, 19)

Porém, a principal rejeição à idéia que apresentamos neste estudo é que muitos tendem a associá-la à reencarnação. Sem dúvidas, o conceito de reencarnação não é compatível com a fé cristã, baseada nos preceitos bíblicos.

Contudo, há uma grande diferença entre a idéia da reencarnação, tal qual é ensinada pelo espiritismo, e o conceito de "ressurgimento" de um ser que já existiu, como é apresentado no Apocalipse.

As Escrituras revelam que está ordenado aos homens morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27). No caso do anticristo, vemos na Palavra que o mesmo será lançado vivo no lago de fogo, após subir do abismo.

Ou seja, o anticristo não morrerá antes de ser lançado no lago de fogo, que é um local definitivo para os seres que não terão comunhão com o Senhor, diferente do abismo, que é um local temporário.

Isso abre um precedente para que ele já tivesse morrido antes e, através da operação do erro, dentro do clímax do engano satânico sobre o mundo, esse ser "ressurja" da morte, sendo derrotado e condenado sumariamente a ser lançado vivo ao lago de fogo pelo Ungido em Sua volta. Não há razões bíblicas para negar a literalidade do ressurgimento da besta do abismo.

A principal questão neste ponto é determinar como ocorerá isso. Terá o anticristo apenas uma aparência humana? Haverá algum simulacro de ressurreição de um homem que já existiu?

Técnicas de clonagem ou até mesmo técnicas que nem sequer imaginamos serão utilizadas para levar adiante esse gigantesco engano? São questões sobre as quais temos que refletir e ficar preparados, para não sermos enganados (Mateus 24:24).

Cremos que o surgimento do anticristo e toda a questão da cura da ferida mortal está estritamente relacionado à operação do erro e à grande mentira que haverá no período tribulacional.

Durante a grande tribulação serão permitidas às forças satânicas ações nunca antes vistas na face da Terra. Sem medo de errar, podemos dizer que a maior mentira de todos os tempos será colocada em prática no período tribulacional, já que o pai da mentira guiará a besta.

Devemos estar atentos a isso para não sermos enganados! Não podemos esquecer que toda a terra se maravilhará diante da cura da ferida mortal da besta que surge do abismo (Apocalipse 13:3).

As petulantes perguntas de Apocalipse 13:4 "Quem é semelhante à besta?" e "Quem poderá batalhar contra ela?", de acordo com o conhecido teólogo Champlin, são uma paródia das mesmas declarações dirigidas ao Criador nas Escrituras...

Realmente, a cura da ferida mortal da besta gerará esse sentimento maligno em todo o planeta. Fará com que a maior das pessoas blasfeme o nome do Senhor e entregue suas vidas à besta.

Por isso cremos que a cura da ferida mortal ou a subida da besta do abismo será algo sem precedentes na história humana. Esse fato se apresenta como um momento de prova crucial para os verdadeiros servos do Altíssimo, que se verão diante de acontecimentos espantosos. 

Gostaríamos de finalizar este estudo com algumas premissas bíblicas já comentadas:

1. O alvo da ferida mortal e a cura será um homem e tal homem será mundialmente adorado por uma população maravilhada (Apocalipse 13:3, Apocalipse 13:14)

2. Esse homem não existia quando o Apocalipse foi escrito, mas já tinha existido (Apocalipse 17:8)

3. Esse homem surgirá do abismo (Apocalipse 17:8, Apocalipse 11:7)

4. Esse homem será lançado vivo no lago de fogo (Apocalipse 19:20)

Que você, leitor do Projeto Ômega, possa refletir a respeito desse assunto. Nesse estudo, como nos outros, não pretendemos assumir a posição de donos da verdade.

Respeitamos as outras interpretações, mas julgamos que é importante que você esteja preparado para a realidade proposta neste artigo, ciente do gigantesco engano que se aproxima...Que o Eterno Pai nos conduza a toda verdade!

Em Cristo,

Jesiel Rodrigues



 

Saiba que o Altíssimo está no controle de tudo e de todos. Mesmo nos momentos mais difíceis, Ele estará conosco. A nossa salvação em Cristo é eterna. Nele, somos novas criaturas. Ele já venceu a morte. Ele é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na tribulação. Se você leu este artigo e ainda não tem a certeza da salvação eterna em Jesus, faça agora mesmo um compromisso com Ele! Convide-o para entrar em seu coração e mostrar-lhe a verdade que liberta. Veja porque você precisa ser regenerado e justificado, para viver a boa, perfeita e agradável vontade eterna do Criador e estar firme Nele diante de qualquer circunstância. Clique AQUI.

 

 


© Copyright Projeto Ômega – Todos os direitos reservados